segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

DEPOIMENTO DE UM VIRA-LATA (VOCÊ PODE FICAR TRISTE, MAS SUA TRISTEZA NÃO SERÁ NADA EM RELAÇÃO A VIDA DELE)

  Acordo, me estico, levanto, ando um pouco, abaixo a cabeça, bebo água que passa na lateral da rua, deve ser da chuva da noite passada, dá pra perceber pelo gosto ruim, porém já estou acostumado, vou procurar comida, sinto cheiro de carne em uma lixeira, devido a fome já começa a me dá aguá na boca, me estico pra alcançar, rasgo a sacola, cai um pedaço de osso, me abaixo para pega-lo com a boca, sinto uma dor, acabo de levar mais um pedrada, corro, paro, olho para trás, verifico o local da dor, passo a língua, essa não feriu.
  O calor está mais forte que o normal, esse período fica insuportável para quem vive na rua, deito em uma calçada, pulgas me incomodam e não deixam eu cochilar nem para esquecer um pouco da fome, me coço, sinto outra dor, agora nas costas, levo uma paulada do dono da casa aos gritos de "cão pulguento", corro novamente, paro, não alcanço as costas para verificar se feriu, choro, vou para um lote baldio, longe de humanos, deito em baixo de uma árvore, começo a pegar no sono, formigas atacam fortemente minhas patas, levanto e saio. vou procurar comida, encontro outro lixo, dessa vez pego a sacola pelos dentes e corro, levo para outro lote baldio, abro, como arroz com pedaços de gordura que algum humano jogou fora, bebo aguá concentrada em um pneu no mesmo lote, e durmo dentro de uma velha construção.
  Acordo novamente, levanto, me estico, as costas voltam a doer, me sinto fraco, com fome e sede, a água com bactérias concentrada no pneu juntamente com a gordura podre me faz vomitar. tento sair da construção, estou sem forças, deito, começa a escurecer, choro, choro mais alto, minha boca começa a espumar, estou sozinho como sempre e ainda ganho um novo inimigo, o frio, apago lentamente.
Sinto uma luz forte no rosto, levanto o pescoço, acho que estou melhor, é um novo dia, saio em busca de comida, bebo água novamente do pneu, fuço o lixo de um açougue, como uns retalhos, ando pela rua, vejo um homem passeando com seu cão, me aproximo, ele grita e eu corro, meus rabos entre as pernas incomodam minha corrida, então eu paro e deito em uma calçada.
  Olho para a rua e vejo novamente outro cão com a coleira no pescoço e andando pela praça com seu dono, não entendo porque sou diferente, ele faz carinho nele e não fazem em mim, eles comem algo que vende no mercado dentro de uma sacola com a foto de um cão estampado na frente, e eu como lixo, ele bebem água limpa, e eu bebo com insetos mortos, eles recebem beijo, e eu pedradas, eles correm rumo ao dono, e eu corro para fugir dos humanos... espero que minha vida passe logo, que o sofrimento seja breve, quem sabe em outra vida ao invés de ódio eu receberei amor.
Levanto e ando novamente, cada dia uma jornada, um sofrimento, uma dor, e oque eu fiz pra merecer isso ? quem vai responde é cada um de vocês que está lendo isso nesse exato momento.

Autor: Lucas Henrique 
26/01/2015



Um comentário:

MARIA disse...

INFELIZMENTE ESSA É A REALIDADE DE MUITOS ANIMAIS NAS RUAS....😭😭😭